sexta-feira, 28 de novembro de 2008

COISAS DE PORTUGAL

28 Novembro 2008 - 09h00
Opinião
Optimismo precisa-se
A divulgação esta semana de um inquérito social nos 27 países da União Europeia e vizinhos mostrou que os portugueses estão entre os menos felizes e mais pessimistas. A situação é desajustada dos números da economia real.
Integrados no pelotão da frente da UE, na zona da moeda única, os portugueses gozam de um nível de vida superior ao de uma dezena de outros países da comunidade. No entanto, sentimo-nos pior. E não deve ser por causa do fado a que se associa tristeza e saudades frustrantes.
O inquérito fornece algumas pistas. Os menos felizes são os que participam menos na vida colectiva. E os que menos confiam nas instituições políticas.
Os portugueses têm motivos históricos de queixa das atribulações da sua vida colectiva. Passaram o último século a ser corridos. Por delírios políticos e atavismos económicos, tiveram de partir do rincão pátrio à procura de sustento nos destinos da emigração, como Brasil, França, Estados Unidos, etc... E com a descolonização, também se viram obrigados a fugir dos territórios africanos onde ergueram uma sociedade de desenvolvimento, desperdiçada e destruída.
Se do passado se conhecem explicações, já é mais difícil aceitar o presente: mesmo com o País há quase 23 anos a beneficiar de fundos comunitários, os portugueses ainda têm de partir de mala às costas à procura de pão noutras paragens. As melhores expectativas acabam por ruir. As crises provocam depressa o descarrilar dos comboios do crescimento. O mesmo Portugal que era frágil exportador de têxteis e cortiça na fase final da ditadura do Estado Novo em 1968-74 não sai hoje da cepa torta no negócio das novas tecnologias, embora se fale a torto e a direito do assunto. Desde as iniciativas empresariais que rapidamente se apagam por falta de consistência comercial aos negócios suspeitos de instituições bancárias como o BPN, que gastou milhões a comprar em paraísos fiscais empresas tecnológicas que faliam em poucos meses.
A ideia de que a vida de um país está condenada a piorar, à maneira do que acontece com as pessoas sempre a caminhar para velhas, precisa de ser erradicada. Não é admissível resignarmo-nos a ser dos mais infelizes da Europa. Não se pode entregar a felicidade à sorte de um qualquer euromilhões. E só pode ser um erro ler a participação na sociedade pelos direitos, que há sempre alguém disposto a proclamar e cujo não cumprimento sempre nos enche de revolta. Temos de passar à revolta feliz.
João Vaz, Jornalista

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