quinta-feira, 19 de junho de 2008

CORA RÓNAI - NO O GLOBO DIA 12/6/08- VARIG




HOJE IMPERA A HIPOCRISIA (minha opinião)
VARIG, VARIG......VARIG !!!!!!

Lendo a matéria escrita por Cora Rónai, no O Globo do dia 12 de Junho de 2008, me senti um pouco até que nervoso, quando se lê na nossa imprensa declarações de políticos da oposição subindo nos palanques e pousando de "grandes representantes" de um passado cheio de homens "honestos," cônscios de sua obrigações para com a Pátria brasileira. Triste, mas estamos e temos que conviver, e principalmente com certa imprensa dando respaldo como se tudo de hoje não tem nenhum espelho do que ocorreu no passado desse´país.

Eis o que escreveu Cora Rónai:

Houve um tempo em que o Brasil era um país subdesenvolvido. Ora, como era muito triste ver tanta gente desenvolvida vivendo num país subdesenvolvido, um gênio desses que andam por aí achou a saída perfeita para o problema: inventou uma nova expressão e passamos a ser o país em desenvolvimento, coisa que em muito melhorou a auto-estima das gentes. Isso se deu mais ou menos na mesma época em que gênios de outras partes do mundo criavam o termo "Terceiro Mundo", que aliás, nunca entendo direito, não por não saber diferenciar o Primeiro Mundo do Terceiro, mas por nunca ter descoberto quem seria, ou onde ficaria , o Segundo.

Ainda assim, quando viajávamos, continuávamos sendo cidadãos de quinta pois o país em desenvolvimento não permitíamos que tivéssemos cartão de crédito internacional. E, por conta da diferença estratoférica entre o dólar "oficial" e o dólar em pessoa, o verdadeiro, éramos limitados à compra de meia dúzia de dólares por viagem. Para quem ia a negócios ali na esquina, rapidinho, até funcionava; para quem ia de férias e pretendia passar o mês viajando, mal dava para a saída. De modo que, viva a marginalidade, éramos todos obrigados a recorrer a doleiros.

Viajar carregando na carteira aquela dinheirada era arriscado e angustiante. Tinha quem escondesse tudo na meia cueca. ( Genuíno não foi quem inventou isso, é calúnia) usasse bolsa por dentro da blusa, bolsos falsos por dentro das calças e outras tantas precauções mais ou menos inúteis. E essa atrapalhação toda ainda não era nada diante das dificuldades de se alugar um carro sem cartão de crédito.

Éramos obrigados a deixar as´passagens nas locadoras, além de um depósito milionário, como garantia de bom caráter. O subtexto era claro e, de resto, plenamente justificável num mundo capitalista: não tem cartão de crédito, não tem qualquer outro crédito.

É claro que nem todo brasileiro passava por esses perrengues. Já então, gente de governo e políticos não se apertavam. Cartão Internacional era com eles, com vantagem de que nem ao menos pagavam a conta. A tradição, como se vê, vem de longe. Mas assim como há o bom e o mau colesterol, havia também as boas exceções. Qualquer cidadão do maravilhoso país chamado Classe Média Alta que tivesse 50 mil dólares sobrando podia abrir um conta lá fora e conseguir cartão de crédito para circular feito gente pelo mundo civilizado. ERA ILEGAL, E DAÍ?


Eu pertencia do time dos que tinham um "bolso secreto"costurado dentro dos jeans. Muitas vezes deixei de alugar carro para não passar pelo constrangimento para não entregar à locadora a passagem e todos os meus bens terrenos. É um dos meus orgulhos de pobre: viajar como lixo nunca foi minha ideia de um bom programa.


Andei lembrando disso porque o crime cometido contra a Varig voltou ao noticiário. Retórica à parte, a Varig nos tirava do Terceiro Mundo e nos elevava, no melhor sentido, a outras alturas. Impossível não sentir orgulho ao chegar a qualquer aeroporto do mundo e ainda lá de cima, avistar as "nossas" aéronaves lá embaixo.

E as agências? Não me lembro de ter passado por qualquer capital onde não houvesse uma bela agência da Varig, sempre bem localizada, sempre com água e cafezinho e bons atendentes em bom português, verdadeiras embaixadas informais, não raro acolhedoras e mais eficicientes do que as oficiais.

Por trás, porém, o que sempre há por trás das nossas administrações. Já conhecíamos bem dos pecados da Varig, da rasteira na Panair à demora em criar programa de milhas. Hoje, sabemos que voávamos numa espécie de tapete mágico, numa quimera que, na realidade, estava afundada em dívidas.


Acontece que, a despeito disso, a Varig tinha algo muito mais precioso do que seus aviões, prédios e outros bens materiais. Tinha uma experiência incomparável de Brasil. Sabia voar, porque tinha um time de profissionais extraordinários, que não se cria da noite para o dia.


Enquanto a Varig viveu, a aviação brasileira funcionava, e inspirava confiança nos viajantes.

Qualquer guru da economia pode provar o contrário em meia dúzia de frases, mas estou convencida de que dinheiro não é tudo, nem na vida das pessoas nem das dos países O know-how da Varig; o conhecimento acumulado da sua maravilhosa rede de Comandantes, engenheiros, comissários, mecânicos e funcionários de todo tipo; tudo isso era um bem do Brasil, que qualquer governo decente e com um mínimo de visão teria lutado para manter.


Aos poucos começa vir à tona o assassinato de uma das mais queridas empresas brasileiras. Tarde demais. A Varig já não quer dizer nada. Os profissionais de que o país se orgulhava estão espalhados pelo mundo; a malha aérea que tão bem cobria país se desfez, os preciosos slots dos aéroportos internacionais se perderam. Meia dúzia de compadres ficaram riquíssimos; o Brasil ficou incalculavelmente mais pobre.

Blog: cora.blogspt.com - e-mail cora@oglobo.com.br

Obs. Estou colocando os endereços acima e por outro lado, também enviei um -email solicitando permissão para copiar essa bela matéria, porém se resposta e agora tornei essa vontade assim mesmo.











Saiba viver melhor lendo o que outros escrevem para você saber mais do que pensa que sabe. Pedro Bueno