domingo, 4 de janeiro de 2009

Transformações ocorridas no Brasil

As profundas transformações ocorridas na economia brasileira nos últimos 25 anos não foram capazes de tirar do ABC paulista (parte da Região Metropolitana de São Paulo composta pelos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul) a imagem das grandes fábricas, com sua multidão de operários mobilizados. Tampouco a lembrança do que representaram para a abertura política do Brasil e muito menos os expoentes políticos que saíram de lá.
Em Retratos recentes do ABC: Quando o apito da fábrica silencia, Jefferson José da Conceição nos conta uma história bem distinta desse período. O livro é resultado do trabalho de doutoramento em sociologia apresentado pelo autor à Universidade de São Paulo (USP) em 2006. Foi lançado este ano, como primeira obra da Editora ABCD Maior.
O estudo trata dos efeitos do fechamento de indústrias e perda de postos de trabalho na região, que teve início nos anos 1980 e se intensificou na década seguinte.
Trabalhos acadêmicos são com freqüência associados a textos maçantes, de leitura árida. Não é isso o que acontece com Jefferson José da Conceição. Ele brinda o leitor com citações de filmes e trechos de canções nos quais é retratado o cotidiano de uma região onde o tempo se media pelas sirenes das fábricas e todo mundo tinha em casa alguma "gasolina para tirar a graxa dos macacões".
O autor nos conta como se deu a industrialização no ABC durante o século XX e como o centro dinâmico passou das indústrias de móveis e louças para a grande indústria automobilística fordista*. O maior impulso se deu a partir dos anos 1950-1960. O Plano de Metas de Juscelino Kubitschek trouxe o ABC para o coração do desenvolvimento industrial brasileiro. O famoso tripé da divisão de trabalho na industrialização (empresas estatais, empresas multinacionais e o capital privado) tinha ali um (ou dois) dos seus centros de gravidade. No período do Milagre Econômico (entre 1968-1973), a produção intensificou-se, mais gente foi para a região e uma série de problemas sociais começou seu processo de gestação.
A crise econômica dos anos 1980, a abertura dos 1990 e a conseqüente reestruturação industrial acontecida a partir daí foram trazendo uma nova realidade ao ABC: obsolescência de unidades fabris; desemprego; galpões vazios; invasões de terrenos de fábricas.
Junto com a queda do emprego industrial, foram aumentando as ofertas de trabalho nos setores de serviço e comércio, com salários muito inferiores aos pagos pela indústria.
Conceição faz um levantamento completo: as políticas governamentais, os movimentos sociais, a percepção de sindicatos, empresários e governo sobre todo o processo. Tudo está muito bem documentado por dados estatísticos, trechos da imprensa, entrevistas.
Um retrato em movimento da nossa história recente, que merece ser olhado com calma e atenção.
* "O modelo fordista de produção, também conhecido como modelo taylorista, foi predominante no sistema capitalista do início do século XX até a década de 1970. Se caracterizava pelo trabalho extremamente dividido, padronizado, repetitivo, em postos individuais, com tempos bastante curtos para cada tarefa e forte controle da chefia sobre os trabalhadores. A imagem típica do modelo fordista é a linha de montagem, tão bem reproduzida no filme de Charles Chaplin, Tempos Modernos."
Fonte: site da Fundação Perseu Abramo
Contato com a editora:
livros@abcdmaior.com.br
Telefone: (11) 4127-3612
Apesar de tudo, o Brasil tem crescido.
Que os ciganos da nossa economia errem sempre, como agora.

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