quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A IMPRENSA FRANCESA.

SR. MERCADO PERDEU MAIS UMA
que ninguém teve a coragem de desmascarar porque todos os atores (argh!) estavam tirando vantagens.
Qualquer terapia para reanimar a economia mundial deve passar obrigatoriamente por um tremendo choque regulatório. O Sr. Mercado não tem credibilidade para salvar o mundo da débâcle iminente. Se tivesse alguma competência teria salvado a si mesmo.
Em poucas palavrasSarkozy quer salvar a mídia impressa
Por Alberto Dines em 27/1/2009
Acabou a era do Estado omisso: ou os governos assumem os vácuos produzidos pela crise ou mergulhamos no caos.
O problema está sendo claramente colocado por Barack Obama: a injeção de 850 bilhões de dólares só se fará se aumentarem os controles sobre o sistema financeiro americano. Simplificando: ou dá ou desce.
O problema não é ideológico, Adam Smith nada tem a ver com isso. Nem Marx. O dilema é concreto, objetivo: as bolhas são filhas da desregulamentação, a exuberância foi uma mentira coletiva
O presidente francês Nicolas Sarkozy é um pragmático, com algo de bonapartista – no físico e na personalidade voluntarista. Ao contrário dos conterrâneos enrolados na retórica e imersos na ideologia, preferiu agir.
Em outubro do ano passado [ver "
Um plano para salvar a mídia impressa francesa"] convocou os "Estados Gerais da Imprensa Escrita", uma iniciativa razoavelmente pluralista com 140 participantes incluindo jornalistas profissionais, representantes da mídia nacional, regional e hebdomadária, acadêmicos e funcionários do governo, e deu-lhes um prazo de três meses para produzir um documento coerente.
A moçada reuniu-se 72 vezes e na sexta-feira (23/1) o presidente francês apresentou o
Livro Verde, conjunto de medidas para reverter a queda livre da mídia impressa francesa, avaliado em 600 milhões de euros num setor que emprega 100 mil trabalhadores [ver aqui].
O Sr. Mercado (ou melhor, Monsieur Le Marché) teria condições de preparar uma resposta tão rápida para um problema tão premente? Não. Em primeiro lugar porque os mercados não têm e não devem ter poder. Para não contaminá-lo com seus interesses. Só o Estado democrático, devidamente constituído, equilibrado e fiscalizado, pode encarregar-se de uma operação de salvamento deste porte e natureza, que envolve ideais e valores muito caros à civilização francesa.
Questão ainda mais contundente e grave: o mercado estaria efetivamente interessado em salvar a mídia impressa? A indústria jornalística – como a de salsichas ou a de biscoitos – não está minimamente sintonizada no atendimento ao interesse público, nem nos interesses permanentes da sociedade. A decadência da mídia impressa não sensibilizou a indústria jornalística – ao primeiro sinal de perigo, pulou do barco. Não tem amor ao seu negócio, o core business, ligada tão-somente ao business.
Jornal impresso deixou de agradar aos jovens? Nenhum problema: basta oferecer às novas gerações notícias de algumas palavras através dos smart-phones e estamos conversados. Só um governo ou um governante ficaria preocupado com a incapacidade dos cérebros juvenis entenderem um pensamento mais elaborado.
Mais cautela
A indústria e o mercado não são abstrações, compõem-se de empresas e empresários. No caso da imprensa, essas empresas são veículos jornalísticos que gozam de privilégios constitucionais e, em contrapartida, deveriam preocupar-se com sua função social. O mercado nunca foi doutrinado para ajustar-se às políticas públicas.
Além do mais é preciso reconhecer que a imprensa francesa é hoje uma sombra do que foi há 20 ou 30 anos. Os seus ícones estão visivelmente deteriorados. O Monde [Le Monde], o Libé [Liberation], o Figaro e o Obs (semanário Nouvel Observateur] – para citar os mais conhecidos – perderam sua vitalidade, seu cartesianismo não consegue funcionar em situações de emergência.
Compare-se o comportamento do Monde com o do El País no tocante à acessibilidade digital. Esquecido da tradição universalista da cultura francesa, o Monde impõe barreiras ao internauta, o acesso ao seu site é parcial. Já o diário espanhol (na realidade um diário global em língua espanhola) oferece acesso livre. Isso faz a diferença – no plano simbólico como no prático.
Resultado: em meio à decadência generalizada da mídia impressa, o EP é uma estrela em ascensão, vende em média 431.034 exemplares diários. Apesar da queda de 1% na circulação em 2008, aumentou a sua diferença sobre o principal concorrente, El Mundo, em 107 mil exemplares (El País, 24/1, pág. 36)
Os editores espanhóis (agrupados em torno da AEDE – Asociación de Editores de Diarios Españoles) também reivindicam do governo Zapatero um programa de apoio à mídia impressa (a reivindicação não é inusitada na União Européia). Sarkozy ofereceu aos veículos franceses um aumento substancial na propaganda do governo; os espanhóis, mais cautelosos, querem diminuição dos impostos e programas de O Sr. Mercado está perdendo todas as batalhas, em todos os quadrantes. Ele não dá conta das grandes transformações, nem tem condições de enfrentar as grandes emergências
Apesar de tudo, o Brasil tem crescido.
Que os ciganos da nossa economia errem sempre, como agora.

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