que ninguém teve a coragem de desmascarar porque todos os atores (argh!) estavam tirando vantagens.
Qualquer terapia para reanimar a economia mundial deve passar obrigatoriamente por um tremendo choque regulatório. O Sr. Mercado não tem credibilidade para salvar o mundo da débâcle iminente. Se tivesse alguma competência teria salvado a si mesmo.
Em poucas palavrasSarkozy quer salvar a mídia impressa
Por Alberto Dines em 27/1/2009
Acabou a era do Estado omisso: ou os governos assumem os vácuos produzidos pela crise ou mergulhamos no caos.
O problema está sendo claramente colocado por Barack Obama: a injeção de 850 bilhões de dólares só se fará se aumentarem os controles sobre o sistema financeiro americano. Simplificando: ou dá ou desce.
O problema não é ideológico, Adam Smith nada tem a ver com isso. Nem Marx. O dilema é concreto, objetivo: as bolhas são filhas da desregulamentação, a exuberância foi uma mentira coletiva
O presidente francês Nicolas Sarkozy é um pragmático, com algo de bonapartista – no físico e na personalidade voluntarista. Ao contrário dos conterrâneos enrolados na retórica e imersos na ideologia, preferiu agir.
Em outubro do ano passado [ver "Um plano para salvar a mídia impressa francesa"] convocou os "Estados Gerais da Imprensa Escrita", uma iniciativa razoavelmente pluralista com 140 participantes incluindo jornalistas profissionais, representantes da mídia nacional, regional e hebdomadária, acadêmicos e funcionários do governo, e deu-lhes um prazo de três meses para produzir um documento coerente.
A moçada reuniu-se 72 vezes e na sexta-feira (23/1) o presidente francês apresentou o Livro Verde, conjunto de medidas para reverter a queda livre da mídia impressa francesa, avaliado em 600 milhões de euros num setor que emprega 100 mil trabalhadores [ver aqui].
O Sr. Mercado (ou melhor, Monsieur Le Marché) teria condições de preparar uma resposta tão rápida para um problema tão premente? Não. Em primeiro lugar porque os mercados não têm e não devem ter poder. Para não contaminá-lo com seus interesses. Só o Estado democrático, devidamente constituído, equilibrado e fiscalizado, pode encarregar-se de uma operação de salvamento deste porte e natureza, que envolve ideais e valores muito caros à civilização francesa.
Questão ainda mais contundente e grave: o mercado estaria efetivamente interessado em salvar a mídia impressa? A indústria jornalística – como a de salsichas ou a de biscoitos – não está minimamente sintonizada no atendimento ao interesse público, nem nos interesses permanentes da sociedade. A decadência da mídia impressa não sensibilizou a indústria jornalística – ao primeiro sinal de perigo, pulou do barco. Não tem amor ao seu negócio, o core business, ligada tão-somente ao business.
Jornal impresso deixou de agradar aos jovens? Nenhum problema: basta oferecer às novas gerações notícias de algumas palavras através dos smart-phones e estamos conversados. Só um governo ou um governante ficaria preocupado com a incapacidade dos cérebros juvenis entenderem um pensamento mais elaborado.
Mais cautela
A indústria e o mercado não são abstrações, compõem-se de empresas e empresários. No caso da imprensa, essas empresas são veículos jornalísticos que gozam de privilégios constitucionais e, em contrapartida, deveriam preocupar-se com sua função social. O mercado nunca foi doutrinado para ajustar-se às políticas públicas.
Além do mais é preciso reconhecer que a imprensa francesa é hoje uma sombra do que foi há 20 ou 30 anos. Os seus ícones estão visivelmente deteriorados. O Monde [Le Monde], o Libé [Liberation], o Figaro e o Obs (semanário Nouvel Observateur] – para citar os mais conhecidos – perderam sua vitalidade, seu cartesianismo não consegue funcionar em situações de emergência.
Compare-se o comportamento do Monde com o do El País no tocante à acessibilidade digital. Esquecido da tradição universalista da cultura francesa, o Monde impõe barreiras ao internauta, o acesso ao seu site é parcial. Já o diário espanhol (na realidade um diário global em língua espanhola) oferece acesso livre. Isso faz a diferença – no plano simbólico como no prático.
Resultado: em meio à decadência generalizada da mídia impressa, o EP é uma estrela em ascensão, vende em média 431.034 exemplares diários. Apesar da queda de 1% na circulação em 2008, aumentou a sua diferença sobre o principal concorrente, El Mundo, em 107 mil exemplares (El País, 24/1, pág. 36)
Os editores espanhóis (agrupados em torno da AEDE – Asociación de Editores de Diarios Españoles) também reivindicam do governo Zapatero um programa de apoio à mídia impressa (a reivindicação não é inusitada na União Européia). Sarkozy ofereceu aos veículos franceses um aumento substancial na propaganda do governo; os espanhóis, mais cautelosos, querem diminuição dos impostos e programas de O Sr. Mercado está perdendo todas as batalhas, em todos os quadrantes. Ele não dá conta das grandes transformações, nem tem condições de enfrentar as grandes emergências
Apesar de tudo, o Brasil tem crescido.Qualquer terapia para reanimar a economia mundial deve passar obrigatoriamente por um tremendo choque regulatório. O Sr. Mercado não tem credibilidade para salvar o mundo da débâcle iminente. Se tivesse alguma competência teria salvado a si mesmo.
Em poucas palavrasSarkozy quer salvar a mídia impressa
Por Alberto Dines em 27/1/2009
Acabou a era do Estado omisso: ou os governos assumem os vácuos produzidos pela crise ou mergulhamos no caos.
O problema está sendo claramente colocado por Barack Obama: a injeção de 850 bilhões de dólares só se fará se aumentarem os controles sobre o sistema financeiro americano. Simplificando: ou dá ou desce.
O problema não é ideológico, Adam Smith nada tem a ver com isso. Nem Marx. O dilema é concreto, objetivo: as bolhas são filhas da desregulamentação, a exuberância foi uma mentira coletiva
O presidente francês Nicolas Sarkozy é um pragmático, com algo de bonapartista – no físico e na personalidade voluntarista. Ao contrário dos conterrâneos enrolados na retórica e imersos na ideologia, preferiu agir.
Em outubro do ano passado [ver "Um plano para salvar a mídia impressa francesa"] convocou os "Estados Gerais da Imprensa Escrita", uma iniciativa razoavelmente pluralista com 140 participantes incluindo jornalistas profissionais, representantes da mídia nacional, regional e hebdomadária, acadêmicos e funcionários do governo, e deu-lhes um prazo de três meses para produzir um documento coerente.
A moçada reuniu-se 72 vezes e na sexta-feira (23/1) o presidente francês apresentou o Livro Verde, conjunto de medidas para reverter a queda livre da mídia impressa francesa, avaliado em 600 milhões de euros num setor que emprega 100 mil trabalhadores [ver aqui].
O Sr. Mercado (ou melhor, Monsieur Le Marché) teria condições de preparar uma resposta tão rápida para um problema tão premente? Não. Em primeiro lugar porque os mercados não têm e não devem ter poder. Para não contaminá-lo com seus interesses. Só o Estado democrático, devidamente constituído, equilibrado e fiscalizado, pode encarregar-se de uma operação de salvamento deste porte e natureza, que envolve ideais e valores muito caros à civilização francesa.
Questão ainda mais contundente e grave: o mercado estaria efetivamente interessado em salvar a mídia impressa? A indústria jornalística – como a de salsichas ou a de biscoitos – não está minimamente sintonizada no atendimento ao interesse público, nem nos interesses permanentes da sociedade. A decadência da mídia impressa não sensibilizou a indústria jornalística – ao primeiro sinal de perigo, pulou do barco. Não tem amor ao seu negócio, o core business, ligada tão-somente ao business.
Jornal impresso deixou de agradar aos jovens? Nenhum problema: basta oferecer às novas gerações notícias de algumas palavras através dos smart-phones e estamos conversados. Só um governo ou um governante ficaria preocupado com a incapacidade dos cérebros juvenis entenderem um pensamento mais elaborado.
Mais cautela
A indústria e o mercado não são abstrações, compõem-se de empresas e empresários. No caso da imprensa, essas empresas são veículos jornalísticos que gozam de privilégios constitucionais e, em contrapartida, deveriam preocupar-se com sua função social. O mercado nunca foi doutrinado para ajustar-se às políticas públicas.
Além do mais é preciso reconhecer que a imprensa francesa é hoje uma sombra do que foi há 20 ou 30 anos. Os seus ícones estão visivelmente deteriorados. O Monde [Le Monde], o Libé [Liberation], o Figaro e o Obs (semanário Nouvel Observateur] – para citar os mais conhecidos – perderam sua vitalidade, seu cartesianismo não consegue funcionar em situações de emergência.
Compare-se o comportamento do Monde com o do El País no tocante à acessibilidade digital. Esquecido da tradição universalista da cultura francesa, o Monde impõe barreiras ao internauta, o acesso ao seu site é parcial. Já o diário espanhol (na realidade um diário global em língua espanhola) oferece acesso livre. Isso faz a diferença – no plano simbólico como no prático.
Resultado: em meio à decadência generalizada da mídia impressa, o EP é uma estrela em ascensão, vende em média 431.034 exemplares diários. Apesar da queda de 1% na circulação em 2008, aumentou a sua diferença sobre o principal concorrente, El Mundo, em 107 mil exemplares (El País, 24/1, pág. 36)
Os editores espanhóis (agrupados em torno da AEDE – Asociación de Editores de Diarios Españoles) também reivindicam do governo Zapatero um programa de apoio à mídia impressa (a reivindicação não é inusitada na União Européia). Sarkozy ofereceu aos veículos franceses um aumento substancial na propaganda do governo; os espanhóis, mais cautelosos, querem diminuição dos impostos e programas de O Sr. Mercado está perdendo todas as batalhas, em todos os quadrantes. Ele não dá conta das grandes transformações, nem tem condições de enfrentar as grandes emergências
Que os ciganos da nossa economia errem sempre, como agora.
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